Foram 31 dias de estrada. Mas a viagem? A viagem se perde.
Chegado em casa resta a difícil tarefa de tentar traduzir em palavras o que foi tudo isso.
Não foram apenas 31 dias pois há 3 dias atrás nos despedíamos emocionados de Deborah e Ricardo em Porto Alegre e isso já parece que foi há um mês. Há nove dias andávamos tranquilamente entre pinguins e parece que foi há meses.
Há dezoito dias nos maravilhávamos defronte ao glaciar Perito Moreno após horas sendo sacolejados pela magnífica Ruta 40 como se precisássemos ser purificados – assim como a água fica ao correr pelos seixos e cascalhos dos rios – para presenciar tamanha beleza; e isso já parece o ano passado.
Há 31 dias saímos eu e Iara de casa, rumo à estrada, ao fim do mundo, e esta data já confunde-se com o dia em que planejei tudo isso. Quando idealizei isso mesmo?
Há dezesseis dias alcancei com minha companheira de vida e meus queridos amigos o fim do mundo, por terra, e isso já confunde-se comigo.
Como disse Deborah no post anterior, a viagem é uma metáfora. A estrada, seu caderno. Foram as Cataratas e o Glaciar; o calor empapuçante e o frio que se agravava com o vento impiedoso. O vento. A terra e o mar. O Canal de Magalhães. O Pacífico em Puerto Natales e as Torres del Paine. Os guanacos, pinguins, golfinhos, lebres, tatus e mais. Vinhos e cervejas. Parrilladas, hamburguesas e sandubas de miga. Os langostins e a centolla. O melhor arroz com feijão do mundo já em solo brasileiro num restaurante simples de beira de BR. O medo da falta de gasolina e o alívio de um posto com combustível e banheiro limpo. Pessoas incríveis que conhecemos e outras queridas que cruzamos no caminho. Os momentos de tensão e as risadas, muitas, de um grupo que consolidou uma amizade e cumplicidade em falta no mundo de hoje.
O carro, querido Pois É. Nossa casa e nosso companheiro. Quinto Elemento.
Ushuaia. O fim do mundo.
São Paulo. O início. O fim da viagem. Re-início. Minha casa que já me cultivava saudades. E ao mesmo tempo me traz uma saudade imensa de tudo isso que vivi.
Como os sentimentos dessa viagem, esse blog seguirá de forma meio misturada até que possamos contar tudo. Mas as coisas ainda estão um pouco misturadas, peço-vos paciência. Por enquanto, obrigado Iara, minha linda, meu amor; Deborah e Ricardo, queridos amigos e companheiros de viagem; e a todos que nos acompanharam por este blog. Sem vocês, nada disso seria tão rico e eu não me sentiria tão realizado.